25 de novembro de 2012

Espiritanos em Moçambique
- 2012 -
 
Raul Viana

Itoculo


O dia 28 de novembro de 1996 marca o início efetivo da presença missionária espiritana em Moçambique. Um grupo de seis missionários (dois portugueses, dois angolanos e dois nigerianos) chegaram a estas terras. Foi a resposta afirmativa da Congregação do Espírito Santo ao pedido dos bispos D. Francisco Silota da Diocese do Chimoio e D. Germano Grachane da Diocese de Nacala.
 

Precisamente nestas duas Dioceses assumimos as missões de Inyazónia e de Netia, e aí começamos a viver o carisma espiritano com este povo acabado de sair da guerra civil e com grande vontade de percorrer os caminhos da paz e do desenvolvimento. Uma realidade que marcou a nossa presença missionária, a qual desde o início sempre apostou na promoção social e compromisso eclesial.

Estas duas missões distanciadas geograficamente por mais de mil quilómetros exigiram um estilo de missão assente na vida comunitária espiritana. Para tal não faltaram alegrias e dificuldades, como também foram grandes os desafios enfrentados, e que hoje continuam a ser parte integrante da nossa maneira de viver a missão. Apesar de nos termos localizado longe dos grandes centros urbanos, onde era necessário percorrer difíceis vias de comunicação, também marcados pelo isolamento e precaridade, havia esta certeza de estar com o povo simples e com ele caminhar, vivendo o carisma da missão espiritana.
 

Com o decorrer dos tempos novas realidades surgiram e novas decisões foram tomadas. A missão/paróquia de Netia cresceu, estruturou-se e foi entregue ao Clero local em 2004. Entretanto, ao lado surgiu um novo projeto que precisava ser assumido e consolidado. Tratava-se da missão/quase-paróquia de Itoculo, onde nos encontramos atualmente em processo de consolidação social e eclesial. É uma missão rural onde é preciso percorrer as 77 comunidades ministeriais, formar e capacitar os animadores cristãos nos diferentes âmbitos da fé e do compromisso social, potenciar e colaborar no desenvolvimento integral dando preferência aos mais desfavorecidos.

Ao mesmo tempo, para romper o isolamento sentido pelos missionários espiritanos, inicia-se um outro projeto em Nampula-cidade para responder às necessidades da Igreja local num dos bairros periféricos (Mutawanha-Paróquia de S. João de Deus). Aqui também a missão é entendida como desenvolvimento humano integral. Além da assistência religiosa pastoral, surgiu uma aposta séria em projetos de desenvolvimento (centro nutricional, sala de corte e costura, biblioteca, cursos de informática, sala de acesso à internet…) especialmente para aqueles que são excluídos, que não têm possibilidade nem capacidade de aceder aos meios comuns de cada dia.

Em Inyazónia (Chimoio) a missão espiritana também está marcada pelos grandes desafios da precaridade de vida das pessoas, da carência de meios e das grandes distâncias a percorrer. O apoio local a pequenos projetos de desenvolvimento a par do anúncio do Evangelho numa larga extensão territorial com cerca de 50 pequenas comunidades é a ocupação e a vida dos missionários aí presentes. A nossa decisão e a vontade de abrir uma nova comunidade espiritana na cidade da Beira permitiria diminuir o isolamento sentido por estes missionários, bem como o reforçar o sentido da missão espiritana, disposta a iniciar um processo formativo para jovens moçambicanos candidatos à vida espiritana.

 
Enfim, passados 16 anos, a missão espiritana continua viva e atual. Não apenas queremos manter, mas aumentar a nossa presença, respondendo às necessidades desta igreja local em geral e da missão espiritana em particular. Por isso, a todos os nossos colaboradores queremos agradecer o apoio e comunhão que recebemos, os quais são fonte de muitas outras iniciativas. Tal é o caso do centro formativo-pastoral de Xihire-Itoculo que as Paróquias de Vitorino dos Piães, Poiares e Navió (Arciprestado de Ponte de Lima-Portugal) ajudaram a erguer. Um agradecimento que se une com uma prece missionária para que haja mais jovens atentos à voz de Deus e se decidam a avançar e a partir em Missão.

6 de novembro de 2012


Ano da Fé em Itoculo


Raul Viana

Itoculo


O dia 11 de Outubro em Roma, o dia 18 na Catedral de Nacala e o dia 4 de Novembro na Paróquia de S. José de Itoculo, em diferentes níveis, estiveram marcados pela mesma iniciativa: celebração de abertura do Ano da Fé.

 Na nossa paróquia de Itoculo quisemos marcá-lo com um sinal exterior, fazendo uma PORTA, por onde entramos e onde devemos passar ao longo de todo o ano, recordando a entrada inicial do nosso batismo na fé da Igreja. (NB: Agradecemos à voluntária Joana Cruz e à sua família que nos possibilitaram esta bela iniciativa).


Como afirma o Papa Bento XVI, o Ano da Fé será um momento oportuno para reavivar e fortalecer a fé e incentivar à transmissão da mesma. A nível interno queremos que seja também será um tempo para recordar a história da evangelização e o surgimento de cada comunidade na nossa paróquia.

Assim, olhando as origens da evangelização em Moçambique, vemos que tudo se iniciou a 11 de Março de 1498, dia em que se celebrou a primeira Missa em terras moçambicanas, participada por Vasco da Gama e os navegadores na primeira viagem marítima para a Índia.

Descoberto este caminho, outros navegadores, e com eles os missionários, chegaram a estas terras. Assim, no ano de 1505 em Sofala, encontramos a primeira igreja em solo moçambicano, onde se começou a ensinar as coisas da fé aos povos locais, celebrando-se em 1506 os primeiros batismos. 


Em 1560 iniciou-se a evangelização para o interior de Moçambique com o P. Gonçalo da Silveira e seus companheiros jesuítas a entrar no reino de Monomotapa. Seguiu-se um tempo de evangelização (1640-1940) com altos e baixos… No séc. XIX dá-se um grande ressurgimento missionário em África que envolverá toda a Igreja, com a tomada de consciência internacional do triste espetáculo da escravatura, que levou à formação de um forte movimento antiescravagista, e onde a Igreja assumiu um papel pioneiro e libertador.

Em 1940, com a assinatura da Concordata e do Acordo Missionário, consegue-se uma nova orientação missionária para a Igreja em Moçambique. São criadas três dioceses (Maputo, Beira e Nampula) e mais tarde são ordenados bispos moçambicanos que assumem essas mesmas dioceses. No interior, as Missões tornam-se verdadeiros polos de evangelização e desenvolvimento.

Centrando-nos agora na nossa diocese de Nacala, temos a dizer que ela foi criada na véspera dos Acordos de Paz, desmembrada da Arquidiocese de Nampula e canonicamente ereta no dia 5 de Novembro de 1991, pelo Papa João Paulo II. No dia 29 de Dezembro de 1991 D. Germano Grachane assumiu a sua cátedra.


A Diocese de Nacala abrange a parte costeira marítima da província de Nampula, partindo do rio Lúrio (a norte) até ao Mongincual (sul). Sendo uma das mais pequenas dioceses territorialmente, com uma superfície de 26.000Km2, compreendendo 9 distritos (Namapa, Nacaroa, Monapo, Mongincual, Mossuril, Ilha de Moçambique, Memba, Nacala-a-Velha e Nacala-Porto), ela é uma das mais densas a nível populacional.

A nossa Diocese tem como padroeira Nossa Senhora da Boa Viagem, um patrocínio e um templo pensados para os marinheiros e navegantes que partiam e/ou chegavam ao Porto de Nacala. As 22 paróquias que compõem a Diocese são também uma expressão da sua riqueza. As mais antigas são as paróquias de Nossa Senhora da Conceição de Mossuril (1524) e de Nossa Senhora da Purificação da Ilha de Moçambique (27/08/1700). A mais recente são as paróquias de S. João Batista de Nacala-Cidade Alta (29/08/1994) e de S. José de Itoculo (19/03/2004).


A nossa paróquia de S. José de Itoculo divide-se em três regiões (Djipwi, Xihire e Congo) e em 15 Zonas pastorais com 77 Comunidades cristãs. Queremos que cada Comunidade cristã conte a sua história, sabendo que a Comunidade cristã mais antiga está a completar 50 anos de existência: S. Paulo Monetaca. O que significa que estamos perante uma igreja jovem e cheia de esperança.

Enfim, temos aqui um breve resumo desta Igreja onde estamos inseridos. Mas, acima de tudo, importa perceber que atrás de nós muitos outros já caminharam e testemunharam a sua fé. Hoje somos nós que temos de dar continuidade a essa história cristã, e nesse sentido manter acesa a chama da fé erguendo bem alto a luz que nos ilumina. Como afirma o Papa Bento XVI, «a fé só se mantém viva quando se partilha». Então, saibamos ser suas testemunhas e anunciadores pela palavra e pela ação, e que Nossa Senhora da Boa Viagem nos acompanhe neste peregrinar.

26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...