25 de janeiro de 2018

UMA DÚZIA

Quem vai ao mercado, ou à feira, pode facilmente ouvir dizer que «à dúzia é mais barato». Aqui na Missão de São José – Itoculo este ano, com a recém-chegada Cristina Fontes, completamos uma DÚZIA de Leigos Missionários Voluntários nestes 14 anos de presença espiritana em Itoculo. Muitos outros Padres e Irmãs Missionários do Espírito Santo, e também os jovens estagiários espiritanos em formação (até ao momento já somam 9 estagiários), ajudaram a embelezar esta Missão, sempre no ritmo missionário de chegar e partir.



Mas com a chegada da Cristina, no dia 23 de Janeiro deste ano, completa-se o total de 12 Voluntários/as que marcaram presença e deram uma parte das suas vidas a esta Missão. Cada um na sua área profissional de formação deu o seu contributo generoso que recordamos com grata memória. A diversidade da acção missionária local acolheu cada um na sua particularidade, e também permitiu descobrir novos talentos que a necessidade obrigou a despontar. Cada um que o diga!

Trata-se de uma lista que começa a meter respeito!

1-Logo no início, vindo ainda da Missão de Netia, estava o enfermeiro Christophe Héveline (francês-2003). E numa missão, não muito distante, estava Natacha, que não esquecemos.

2-Depois veio o Hugo Rodrigues (JSF de Tires-2004) que os alunos recordam como bom professor de português, mas muito exigente.

3-Seguiu-se a Engenheira Celeste Reis (de Lisboa-2006) que ajudou a construir o Centro Paroquial São Francisco Xavier que ainda hoje permite a formação de muitos agentes de pastoral.

4-Depois veio a Joana Pedro (JSF de Monte-Abrãao-2008), também formada na área da engenharia ambiental e animadora de jovens.

5-Continuou com a Ernestina Falcão (de Esposende-2010) professora de biologia e amante dos livros e da leitura, promotora das escolas comunitárias.

6-Outra Joana (JSF de Serzedelo-2012) ocupou o lugar valorizando ainda mais os livros e a biblioteca, não fosse ela arquivista de formação!

7 e 8-Uma dupla, Xana Martins (JSF de Mértola-2013) e Rita Coelho (JSF de Lordelo-2013) e , animaram a juventude e inauguraram a nova biblioteca. Pouco antes tinha chegado a Clemence, enfermeira francesa, mas que não foi autorizada pelo governo moçambicano a trabalhar na área da saúde e regressou.

9 e 10-Seguiu-se a Babuxa (de Sintra-2014) e o Miguel Campos (JSF de Carvalhal-2014) que coordenou os trabalhos na construção do Lar masculino de estudantes para acolher 40 rapazes este ano.

11-Mais recentemente a Helena Carvalho (de Braga-2017), economista de formação mas empreendedora e muito ‘faladeira’ por natureza.

12-E agora a Cristina Fontes (JSF de Fiães-2018) professora de português e inglês e outras coisas que vamos descobrir, e que ainda não podemos dizer…

Uma lista que merece ser continuada pela riqueza da sua diversidade. Se alguém ainda tem dúvidas destes da grandeza e da pertinência destes projectos, aqui fica esclarecido. Também, se alguém ainda hesita em arriscar dar um passo que leva a viver este tipo de Missão, aqui mesmo encontra muitos exemplos de entrega e dedicação. Parabéns a todos/as que por aqui passaram e nesta Missão deixaram as suas marcas. Agora estão um pouco distantes fisicamente, mas tentando sempre ficar próximos. A todos reafirmamos esta certeza que estamos juntos!


Para a Cristina Fontes damos as boas-vindas com votos de boa missão por terras de Itoculo, na Diocese de Nacala.

20 de janeiro de 2018

DEPOIS DAS CHUVAS INTENSAS

O dia começou com uma chamada telefónica do animador de uma zona da paróquia a informar que muitas casas caíram com as chuvas que se fizeram sentir esta semana. Dois dias antes o jovem de uma comunidade informava que na sua comunidade caíram 35 casas. No dia seguinte rectificava e dizendo que subiu para 78, e hoje confirmava serem 85 casas, com possibilidades de aumentar nos próximos dias. Tudo isto resultou de um SMS enviado aos animadores para recolherem os dados e trazerem para o Conselho Paroquial a realizar-se no final do mês.

Após o mata-bicho, juntamente com o jovem Gilberto, seminarista estagiário, demos uma volta pelos bairros, era a sua primeira incursão a fundo por Itoculo. Cruzando pelo espaço da escola fomos na direcção do bairro Sanhote. Encontramos o Sr. Bento que estava a sachar o milho num pequeno terreno junto de casa, onde espera apanhar as primeiras massarocas para comer mais tarde. Saudamos e seguimos rumo à casa do chefe do núcleo de Santa Isabel, que encontramos quando regressava a casa com dois torrões de capim para transplantar e resguardar a sua casa das águas da chuva. Uma planta que serve também para afastar os mosquitos e dá um chã agradável para situações de indisposição. 



Este encontro deu-se quando estávamos a saudar o responsável da família da comunidade de São José, que estava a cortar um cajueiro que caiu em cima da sua latrina. Entretanto chegou um jovem que ia visitar um seminarista e combinar a viagem para Maputo. Também o seguimos nesta visita quando vimos que estava uma conjuntivite há já duas semanas. Saudamos toda a família e continuamos viagem, passando pela casa do Sr. Luís que estava de cama. Entramos para saudar e desejar as melhoras, pois já tinha estado bastante mal, pouco tempo atrás.

Por entre as casas do bairro seguimos até apanhar a estrada principal. Aí encontramos três estudantes que também iam visitar o colega que estava doente. Continuamos mais um pouco e cumprimentamos a mamã Lucinda que estava com a sua criança recém-nascida, também ela com conjuntivite. Descemos mais à frente saudando as pessoas e observando as várias casas caídas ou em risco de cair. O nosso objectivo era chegar à casa do Ancião da comunidade, mas ‘encontramos quando ele lá não estava’.

Na volta, tomamos o lado contrário da estrada e passamos pela casa do Sr. Cássimo onde estava apenas a esposa com as crianças, lamentando-se dos estragos que a chuva causou na cozinha e no celeiro. Continuamos viagem e uma senhora nos interpela para saudar e dizer que está mal da garganta, mas, como tinha entrado no hospital, conseguiu algum medicamento que vai tomar. Desejamos as melhoras e seguimos até ao mercado pela estrada central. Passamos por um grande cajueiro que tombou sobre uma casa e que agora estava cheio de crianças penduradas como num baloiço e em forma de trapézio. Aquilo que era uma tragédia para uns, para estes infantes começou a ser um centro de brincadeira e animação. Talvez seja uma maneira alternativa e mais animada para olhar esta triste realidade.

Daí cruzamos para o cemitério dos monhés que estava fechado. Mais à frente entramos na zona do bairro Novo onde muitas casas também sofreram com as chuvas intensas. De seguida penetramos no bairro de Talalane passando por uma grande mangueira que estava a ser bem abanada nos seus frutos ainda verdes. De tanto abanar se encheu todo o chão de mangas verdes, era a fome e a vontade de apanhar mangas comestíveis. O pior é que amanhã não terão outras mangas para comer, porque tudo ficou estragado no chão. Hoje apanham algumas e amanhã não terão nada, apenas mais fome. Esta é a lógica da pobreza que leva à miséria.

Sofrendo da real pobreza estava uma mamã que se aproximou e nos pediu ajuda porque a sua casa caiu totalmente com as primeiras chuvas. Sem ter onde ficar, abrigou-se provisoriamente na casa da filha. Uma situação que se terá de prolongar no tempo, pois este não é período para novas construções. Uma situação provisória por tempo indeterminado.

Continuamos e avançamos até ao núcleo de São Lucas, onde estava o Sr. Paulo com os seus amigos sentados com sinais de quem está a tomar uma ‘primeirinha’ (aguardente local). Também a sua casa foi danificada num dos lados, mas a sala do núcleo estava intacta. Nada de pânico nem alarme, pois ‘Deus enviará o sol para repor tudo no sítio certo’, dizia ele animado pelo espírito da bebida. Aí encontramos também o jovem Okeya, conhecido de todos pela insuficiência mental, mas muito calmo e simpático. Ele nos acompanhou e era o centro das atenções até chegarmos a casa.



Enfim, foi uma volta rápida e atenta que ajudou a ver o estado da situação provocado pelas chuvas intensas de uma depressão atmosférica vindas do Canal de Moçambique. São muitos casos que precisam de uma acção imediata da assistência do Governo local e central com activação do plano de emergência, mas até agora pouco ou nada se fez. E tudo isto situa-se apenas em Itoculo-sede, pois se considerarmos todos os bairros do Posto Administrativo, certamente que iremos ultrapassar as 2500 famílias desabrigadas.

Como Igreja não temos recursos para socorrer estas situações. Mas vamos pensar um plano que possa ajudar na reconstrução das casas. Não apenas na aquisição de material, mas orientação para um tipo de construção que minimize estas situações, onde prevaleçam as casas com cobertura de quatro águas. Mesmo se a maioria das construções são precárias, com adobes de barro amassado, também é possível que sendo bem-feitas elas possam suportar estes fenómenos naturais, vencendo essa precariedade.


«Que Deus nos ajude e seja favorável». É isto que queremos para este ano 2018, quando somos confrontados com situações imprevistas e bastante danificadoras. Ao mesmo tempo, tudo isto representa para nós um desafio à nossa capacidade rigorosa e eficaz de trabalhar. Estamos vivos. Vamos em frente.

26 - A alegria completa

– Netia-Itoculo/2003-2004 «Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. […] Pois esta é a minha alegria! ...